NINHO
Não gosto muito de
saber
As verdades do mundo.
Prefiro inventar
Minhas
próprias verdades.
Por vezes raras
Vejo jornais.
Ontem vi uma mãe
Chorar o filho morto a tiros,
Por animais que professam
Pertencer à espécie humana.
Ao descer do prédio,
Deparei-me com uma mãe beija-flor.
Ela construiu seu ninho
Em cima da minha garagem.
Quando me viu, colocou-se
entre mim e o ninho,
Batia as asas, ameaçava atacar-me,
E retornava à proteção de seus ovos.
Cheguei a pensar comigo:
– Será que essa mãe viu o jornal da tarde?
Olhei bem para aquele ser minúsculo,
Dócil, frágil,
Que tentava afugentar-me a todo custo,
E disse:
Fica em paz,
Minha forma ainda é humana,
Mas meu coração passarinho.
Nara Rúbia Ribeiro
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