DIA DOS PAIS
Que seja um dia comum
Não tem a ver com casa de ferreiro mas,
lá em casa, mais uma vez, comemoraremos o Dia dos Pais com constrangedora
modéstia. Apesar de falarmos sobre criação de filhos o tempo todo, eu e minha
esposa temos um certo desdém pelas datas comemorativas. Não celebramos o Natal,
a não ser pelos familiares; não damos presentes no dia das crianças, pelo que
já me sinto neste exato momento julgado por você; e, uma vez, dormimos às nove
da noite na virada do Réveillon.
Somos, portanto, chatíssimos. Acreditamos que a vida é mais divertida
quando é uma busca constante por significado, não uma alternância entre a
melhor festa da sua vida e prozac terça à noite. A vida é deliciosamente chata,
vamos ao supermercado, andamos de bicicleta, dormimos juntos quando a pequena
tem medo, nosso fogão está com uma das bocas entupida.
Datas comemorativas são, por essa
lógica, só mais um dia no calendário. São importantes para reflexão, mas não
podem condensar todo o significado da celebração. Mãe e pai se é todos os dias.
São dias difíceis muitas vezes.
Você não virou pai porque vai passar com
seus filhos o segundo domingo de Agosto. Você virou pai porque virou noites,
trocou fraldas, correu desesperado pro médico na primeira febre, levou na
creche e chorou no período de adaptação. Você virou pai quando viu crescer,
andar, falar, se machucar. Você virou pai quando seus beijos curaram
machucados, quando dormiu completamente desconfortável para que a criança
dormisse bem. Você virou pai quando ajudou nas tarefas escolares, levou no
pediatra, falou sobre sexo. Você virou pai quando viu que seu filho não é seu.
Seu filho é dele mesmo.
O que vai definir se somos grandes pais
não é a quantidade de Dias dos Pais que passamos juntos com nossos filhos, mas
a quantidade de dias normais. A quantidade de dias úteis. A quantidade de
tarefas de tarde, de apresentações escolares, de vezes que tivemos que faltar
ao trabalho pra levar no médico.
No Dia dos Pais não espero presentes
caros ou almoço extravagante. Quero abraços, como recebo todos os dias.
Cartõezinhos escritos à mão, como os que já abarrotam minha carteira. Beijos de
bom dia barulhentos, como os que já me acordam todas as manhãs.
A paternidade é a maior experiência
humana. Nos faz mais sensíveis, mais generosos, mais humanos. Transforma nossa
vida em algo encantado. Que dure mais do que apenas um dia.
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