QUANDO CRESCER, QUERO SER PIPA
Cores dançantes em um mar de azul.
Assim Pedro vê o céu repleto de pipas da
laje de sua casa. Ansioso, inicia o desenrolar de sua linha, o vento amigo está
a seu favor, sua pipa vermelha levanta voo. Pedro “dá linha”, gosta da sensação
de controle, sabe que pipa feliz é pipa amarrada, se ela se perde, acaba em
tragédia. Aconteceu outro dia quando Pedro teve sua pipa cortada, sabe como é,
nem toda pipa do céu é pipa parceira, tem pipa que tem fio de navalha e, do
mesmo jeito que andar no morro pode ser perigoso, sua linda pipa amarela foi
assassinada, após o corte fatal, rodou, perdeu o cúmplice controle e caiu em
seu voo final.
Nunca mais foi vista, embora ainda seja
lembrada.
Pedro gosta de pensar na vida das pipas como pensa na vida
das pessoas, a noite, deitado na cama, planeja suas aventuras. Hoje, com sua
pipa vermelha, pretende sair dos limites da favela e conhecer o mundo que
existe do lado de lá, do lado que ele nunca foi. Ele pensa: será que a linha
vai dar.
Dá um puxão na pipa para ver se ela responde, ela puxa de
volta. Tá tudo bem, ele pensa.
Pedro gosta de imaginar que quando o sol reflete no papel
de seda e ele consegue ver um pequeno brilho é sua pipa sorrindo, que ela sorri
porque está voando. Aí Pedro fica feliz e sorri também. Mas interrompe o
sorriso e para por um minuto, concentra-se, lembra da palavra da mãe, tem medo
de cair da laje como caiu o Teco, seu vizinho. Foi outro dia mesmo,
Teco estava tão feliz com sua pipa voadora que esqueceu
que o chão tinha fim. Pedro sente falta dele, mas no fundo, tem esperança que
ele more no mundo das pipas perdidas, talvez até conheça sua pipa amarela. Lá
deve ser mais bonito que aqui, ele pensa.
Quando crescer Pedro quer ser piloto de avião, quer subir
lá onde as pipas vão. Mas ainda não tem certeza. Ele queria mesmo era ser pipa.
Fonte: Josie Conti
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