RECLAME menos


Nunca vi tanta gente se queixando do mundo.

Tenho certeza de que quando me descuido, comigo não é diferente. Mas me deem o crédito de ser aquele que pelo menos se analisa e procura melhorar. Quais são as minhas tentativas para mudar esse estado de chatice crônica (ou de reclamador profissional), que inúmeras vezes nos assola? Em primeiro lugar, busco ficar longe do que já sei de antemão que irá me incomodar. Exemplos. Cinema eu frequento nos dias e horários menos nobres, de preferência à tarde. E sempre que posso fico em casa, curtindo meu ótimo sistema de home theater. Foi um investimento muito melhor do que trocar de carro ou fritar um mês numa praia lotada (desculpem, já estou sendo chato de novo). Com isso, dei adeus às pessoas que adoram falar no celular durante a exibição, conversar ininterruptamente sobre o filme ou transformar aquelas duas agradáveis horas num verdadeiro piquenique. Não me surpreenderei se logo o antigo lanterninha for substituído por um vendedor de pizza em fatias ou passar entre nós com um espeto corrido de churrasco. Não vou mais e não me incomodo.


O trânsito está inegavelmente um caos. Cansei de xingamentos (meus e dos outros) e de ficar incontável tempo parado até conseguir atravessar uma mísera quadra. Solução: saio de casa uma hora antes e descubro que a cidade está quase vazia. Entre meio-dia e uma hora é a perfeição. Deixo o carro na garagem e aproveito o período que antecede o início do meu trabalho para pagar alguma conta, comprar um livro, tomar um sorvete. Raramente encontro filas e costumo ser muito bem atendido. 
Não é sempre esse paraíso terrestre, claro, 
mas meu grau de irritação baixa para quase zero.



Restaurantes e bares. Mesma estratégia. Vou de segunda à quarta, quase sempre. Os garçons, que ainda não anseiam pela nossa jugular (compreensivelmente, pois muitas vezes costumamos ser bem desagradáveis, com exigências do tipo “estou pagando, portanto quero o melhor”) nos atendem com a maior boa vontade do mundo. E a espera do prato a ser servido não costuma ultrapassar meia hora. Sem contar que o barulho das conversas paralelas não atrapalha a nossa e vice-versa. A gente quase sente respingar sobre as costas largas porções de gentileza e disponibilidade.



Resolvidas essas questões importantíssimas, podemos nos deparar com aquele amigo, colega, ou quase desconhecido, que adora dissertar sobre os fantásticos feitos de sua vida nos últimos dias, semanas ou mesmo meses. Pior, que resolve contar em detalhes sua mais recente viagem à Europa. Temos de ser verdadeiros malabaristas para escapar desses plantonistas da chatice. Elogios a granel costumam ser seu alimento básico. Uma espécie de alpiste que os nutre e os faz criar asas rumo aos céus da vaidade. Conselho inocente: deixe que os outros descubram se você é mesmo o gênio que desconfia ser. É bastante feio ficar por aí alardeando suas presumíveis qualidades. E achando que suas conversas são sempre muito interessantes. As pessoas podem até parar e ouvir, mas tenha a certeza de que o acharão cansativo e ficarão pensando em outras coisas, loucos para ir embora.



Em resumo: reclame menos e esqueça por alguns segundos de você mesmo. Caso contrário, o cetro e a coroa de “o chato do ano” estarão em suas mãos e sua cabeça permanentemente. A maioria das coisas não é tão complicada assim e, acredite, ninguém é tão maravilhoso quanto imagina. Encontre o seu jeito de escapar daquilo que o incomoda tanto. Por fim, faça uma visita ao cemitério mais próximo e constate quantos seres insubstituíveis lá se encontram. Vale por uma aula de filosofia, antropologia e ética.



Vamos baixar o tom de voz e ser menos resmungões. É impossível que não exista mais nada de bom para aproveitar na vida.

O problema pode ser você
Esse é um conselho de auto-ajuda que pode dar certo.

Por GILMAR MARCÍLIO

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